segunda-feira, 23 de março de 2009

O CORPO OBSOLETO

O CORPO OBSOLETO

Desde os primórdios sempre houve uma discussão sobre os limites e potencialidade do corpo humano, com o tempo, apesar de certos conceitos nesse pensamento terem mudado, a idéia de que o corpo humano é limitado continua a incomodar os seres humanos.
“É bem verdade que, ao longo da história, nas filosofias dualistas e mecanicistas, já relegamos ao segundo plano o corpo humano. O corpo é a prisão da alma em Platão; um relógio em Descartes, uma tábua rasa em Lock. Mas provavelmente em nenhuma época como na atual, filósofos, cientistas e artistas anunciam com tanta convicção e, em tão breve tempo,a obsolência do corpo humano. É o pós-humanismo. Corrente do pensamento que não apenas relega o corpo humano a um segundo plano, mas anuncia sua necessária substituição por máquinas inteligentes. Portanto, é esta a nossa questão: será o corpo humano obsoleto? Continuaremos humanos sem corpos humanos?” (GAYA,205,pdf.pg.2)

“Simplesmente o corpo criou um ambiente de informação e tecnologia com o qual não mais consegue lidar. Esse impulso para acumular de forma contínua mais e mais informação criou uma situação na qual a capacidade da córtex humana simplesmente não consegue absorver e processar de forma criativa toda essa informação. Foi necessário criar tecnologia para fazer aquilo que o corpo não mais consegue realizar. Ele criou uma tecnologia que supera em muito algumas capacidades dele mesmo. A única estratégia evolucionista que vejo e (...) incorporar a tecnologia ao corpo (...) tecnologia ligada simbioticamente e implantada no corpo cria uma nova síntese evolucionária, cria um híbrido humano. O orgânico e o sintético se unindo para criar um novo tipo de energia evolucionária” (STELARC, apud Monteiro, 2003).

A idéia de corpo humano limitado não é apenas de agora quando pretendemos utilizar a tecnologia no auxilio de suas incapacitações. Essa idéia vem de longa data, quando os deuses nas mitologias de varias sociedades, sendo eles seres superiores, são representados por seres híbridos, parte humanos parte animais, onde a parte animal pode representar alguma habilidade específica almejada pelos homens daquela época, demonstrando assim a expansão das capacidades corpóreas com o anexo de partes como asas, músculos de outros animais mais fortes ou até garras.

“Em 1906, Weissenborn sugeriu que a adoração animal resulta da curiosidade do homem. O homem primitivo observaria um animal com uma habilidade única e a inexplicabilidade de tal habilidade despertaria a curiosidade do homem” (WWW.WIKIPEDIA.ORG, apud Weissenborn, 1906).


Ainda na antiguidade filósofos diziam que o corpo humano era uma limitação não só dele mesmo, mas da alma que busca um mundo imaterial perfeito. Hoje, diferente do que os filósofos pensavam, o ser humano vê o próprio corpo como uma “casca” obsoleta que deve ser auxiliada por máquinas. Mas será que repor partes humanas ou até mesmo adicioná-las até que o corpo orgânico esteja extinto é mesmo o “renascimento” e “imortalidade” da humanidade ou não passa de um conforto irreal para pensarmos que conseguimos vencer até a própria morte?

“Se você for capaz de fazer uma máquina que contenha seu espírito, então máquina será você mesmo. Que o diabo carregue o corpo físico, não interessa. Uma máquina pode durar eternamente. Mesmo se ela pára, você pode ainda transferir-se para um disco e ser transportado até outra máquina. Todos gostaríamos de ser imortais.”(G.J. Sussman, apud Breton, In. Novaes, 2003, p.125).




Escrito por Maria Júilia e Guilherme Oliveira

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